Instituto alemão premia pesquisas científicas que “dão errado”

Questão de Fato
13 fev 2020
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Frankenstein e Noiva

Um inusitado prêmio de mil euros (R$ 4.720) vem sendo oferecido aos pesquisadores do Instituto de Saúde de Berlim que publicarem resultados negativos – isto é, em que o estudo acaba contrariando a hipótese testada – de pesquisas biomédicas, ou que sejam tentativas de reprodução de resultados anteriores. Há sete mil pesquisadores na instituição.

A iniciativa tem como objetivos dar mais transparência à pesquisa científica e dar maior confiabilidade à ciência, como explica o instituto, em texto publicado no periódico PLOS, num momento em que aumenta a preocupação da comunidade científica internacional quanto à manipulação de dados e ao excesso de resultados falsos positivos, por causa da enorme pressão que cientistas sofrem para publicar trabalhos de grande impacto em revistas especializadas de prestígio. 

O prêmio também está aberto a cientistas que publiquem estudos pré-clínicos pré-registrados. Isto é, onde os cientistas declaram publicamente, de antemão, quais os resultados que consideram relevantes, o que evita que escolham a dedo os dados mais significativos só depois que a pesquisa já estiver pronta. Há ainda recompensa em dinheiro para artigos que reutilizem dados já publicados por outros pesquisadores. 

Também há prêmios para acadêmicos que publicarem os dados brutos de suas experiências. 

No entanto, o dinheiro não vai para a conta pessoal do pesquisador, mas para seus fundos de pesquisa. “Não dá para fazer pesquisa com mil euros, mas já dá para bancar a viagem de um estudante para um congresso científico”, disse Ulrich Dirnagl, diretor do Departamento de Neurologia Experimental do Charité – o hospital da Universitätsmedizin Berlin –, que compõe o Instituto de Saúde de Berlim ao lado do Max Delbrück Center for Molecular Medicine. 

Em entrevista ao site da revista Times Higher Education, Dirnagl afirmou que os dois anos de existência do prêmio promoveram um debate bastante produtivo sobre integridade na pesquisa. 

O professor Dirnagl, que é diretor e fundador do Quest (Quality, Ethics, Open Science and Translation) Center for Transforming Biomedical Research, conta que seu grupo tem garimpado publicações prévias de seus pesquisadores em busca de dados brutos, entregando os bônus para esses cientistas. 

“Esse incentivo complementa o sistema alemão é que é mais orientado para a performance, no qual a publicação em revistas de grande impacto, atraindo novos financiadores, é recompensada com promoções”, diz o professor. “Como não estamos convencidos de que essa é a melhor maneira de fazer as coisas, queremos complementar esse sistema com recompensas individuais.” 

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