Para 2020 acabar de vez, é preciso que todos se vacinem

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21 jan 2021
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E chegamos a 2021, mas a sensação é de que 2020 durará mais do que 12 meses, e que tudo continua e continuará igual por muito tempo, pelo menos no Brasil. A esperança é a vacina: felizmente, já há campanhas de vacinação em andamento em vários países do mundo, e esperamos que a brasileira venha a deslanchar em breve. A velocidade de desenvolvimento das vacinas assusta algumas pessoas, pois não tem precedente: geralmente, vacinas demoram anos para serem desenvolvidas, e ainda não temos vacinas para várias enfermidades que assolam a Humanidade há séculos.

Então, como as vacinas para a COVID-19 foram desenvolvidas tão rapidamente? O investimento em ciência durante vários anos, incluindo o aprimoramento de técnicas vacinais, e o fato de que pesquisadores de todo o mundo terem trabalhado em prol das vacinas para COVID-19 são fatores importantes.

Além disso, por estarmos numa pandemia, pudemos executar os ensaios clínicos rapidamente. Pois, para verificar se uma vacina para a COVID-19 de fato é eficaz, deve-se vacinar pessoas expostas ao vírus e comparar o número de pessoas vacinadas que contraíram a doença com as que foram injetadas com um placebo. Devido à pandemia, o número de pessoas expostas ao vírus é enorme, o que acelerou os ensaios.

Apesar da pressa, os testes foram feitos com cautela. Aqueles cujos resultados precisavam de confirmação, como os testes da vacina Oxford/AstraZeneca, que tinha erros nas doses de vacinação, foram expandidos para incluir um número maior de pessoas. Até hoje, aproximadamente 30 milhões de pessoas foram vacinadas sem grandes efeitos colaterais. Sim, as vacinas são seguras e constituem a única maneira de sairmos dessa pandemia.

Minha vontade de tomar a vacina é enorme. Se pudesse, tomaria hoje mesmo. Mas, para ser eficaz, a campanha de vacinação deve ser bem planejada. O Brasil tem sorte de ter o SUS, reconhecido mundialmente pela excelência de suas campanhas de vacinação em massa. Mas, por falta de planejamento, não temos vacinas suficientes, nem seringas, nem agulhas.

Por que uma campanha de vacinação em massa precisa ser bem coordenada? Quando um navio está afundando, se não existem botes suficientes para todos, primeiro os mais vulneráveis são socorridos. Por que os mais vulneráveis? Porque essa é sua única chance de se salvar. Eles precisam do bote, enquanto os mais resistentes podem nadar por mais tempo até que chegue outro bote, outro navio ou a terra. Nosso navio está afundando e, para salvar todos, precisamos cuidar primeiro dos mais vulneráveis. Os demais podem aguentar por mais um tempo, usando máscaras e evitando aglomerações.

Um dos problemas da COVID-19 é que cerca de 2% das pessoas que contraem o vírus e apresentam sintomas precisam ser internados, o que parece pouco, mas é, na verdade, um número muito grande, por causa da facilidade e rapidez com que o vírus se dissemina. Esses 2% incluem idosos, pessoas que têm comorbidades ou profissionais da área de saúde que estão diariamente expostos ao coronavírus. Eles têm maior probabilidade de contágio por uma alta carga viral e, se adoecerem, é enorme a probabilidade de precisarem de internação hospitalar. Por isso mesmo, são os que precisam ser vacinados em primeiro lugar.

Essas internações, em grandes números absolutos (embora correspondam a um porcentual pequeno) é que causam um colapso no sistema de saúde.

Infelizmente, já estamos assistindo ao colapso do sistema de saúde nas cidades de Los Angeles, nos EUA, e Manaus, no Brasil, dois países cujos governos têm lidado irresponsavelmente com a pandemia. Se a estratégia de vacinação não for bem pensada, o problema continuará: o número de internações por COVID-19 ainda será enorme e teremos menos leitos para as outras doenças e/ou procedimentos médicos.

Além disso, embora a vacina não seja 100% eficiente, o importante é que sim, impede o agravamento da doença. Mas, como não necessariamente impedem a infecção, pessoas vacinadas potencialmente poderiam ainda transmitir o vírus. É possível que a vacina só impeça o vírus de se replicar em quantidade suficiente para causar doença, mas permita que ele continue viável e contagioso. Nesse caso, uma pessoa vacinada que contraia o SARS-CoV-2 pode, sem notar, levar o vírus a outros, ainda não vacinados, e pô-los em perigo. E, se os mais vulneráveis forem infectados, continuaremos tendo o problema de colapso do sistema de saúde.

Quanto menos pessoas em estado grave, mais leitos livres para tratar as outras doenças. De fato, o número de tumores não diagnosticados e não tratados está aumentando com a COVID-19; mesmo cirurgias eletivas estão sendo adiadas. Se a campanha de vacinação não for bem coordenada, nosso barco continuará afundando. E, claro, é preciso haver uma campanha de vacinação nacional ampla, pública e gratuita. Durante as campanhas de vacinação ainda vamos aprender muito sobre a proteção das vacinas e novas estratégias de vacinação podem ser adotadas para diferentes regiões do país. O importante é lembrar que quanto mais pessoas forem vacinadas, mais rapidamente venceremos essa guerra.

 

Deborah Schechtman é professora associada do Departamento de Bioquímica do IQ-USP

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