Estudos sobre seitas podem ajudar com o QAnon?

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15 mar 2021
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Dias antes da posse do presidente Joe Biden, quando alguns americanos estavam embalados pela falsa crença de que Donald Trump tinha vencido as eleições de novembro, um homem do Colorado começou a mandar mensagens de alerta para sua família. Os próximos dias, escreveu, “vão ser os mais importantes desde a 2ª Guerra Mundial”. Ele acreditava que Trump tinha invocado a Lei da Insurreição de 1807 [1] e que estava prendendo inimigos no Vaticano e em outros países. Prevendo tempos turbulentos, o homem pedia que sua esposa e filhos adultos começassem a estocar gêneros de primeira necessidade. “Veja como os Estados Unidos e o mundo vão ser salvos”, escreveu.

De acordo com um dos filhos, o homem já havia mostrado afinidade por teorias conspiratórias anteriormente, segundo revelou em e-mails para a Undark, pedindo para que sua identidade não fosse revelada para que o pai não seja exposto ao ridículo.

Recentemente, as preocupações do pai assumiram um aspecto mais radical e político – geralmente seguindo a linha do QAnon, uma coleção de teorias conspiratórias de extrema-direita que descreve Trump e seus aliados combatendo uma conspiração internacional de pedófilos esquerdistas.

Os textos de seu pai sobre a preparação de uma rebelião nacional preocuparam o filho, e ele começou a revirar a casa para checar se o pai realmente estava estocando gêneros de primeira necessidade. Também encomendou um livro de Steven Hassan, um conselheiro de saúde mental de Massachusetts que se autointitula “principal especialista em cultos nos Estados Unidos". Também começou a buscar informações sobre “desprogramação” – mais por curiosidade, disse ele – de pessoas que passaram por “lavagem cerebral”.  

Ele não está só nessa sua busca por compreensão dessas teorias conspiratórias. Desde que seguidores de Trump invadiram o Congresso no dia 6 de janeiro, muitos deles carregando cartazes ou usando camisetas com referências a “Q”, especialistas em “desradicalização” que haviam ganhado experiência estudando extremismo islâmico voltaram-se para extremistas de direita alinhados a Trump. Psicólogos sociais que estudam teóricos da conspiração e informações falsas também notaram um súbito aumento do interesse em seu trabalho.

(NOTA DO EDITOR BRASILEIRO: nos Estados Unidos, movimentos religiosos são normalmente classificados em "cultos", grupos pequenos, ferozmente dedicados a seus líderes, cujos membros de isolam da realidade e da sociedade e chegam até a perder contato ou romper relações com os amigos e parentes de fora do grupo; "seitas", grupos religiosos minoritários, muitas vezes dissidências de religiões estabelecidas, que têm uma relação tensa com a sociedade em geral, mas que não chegam a negá-la por completo; e "religiões" propriamente ditas, cujos integrantes seguem como membros plenos da sociedade. Nos anos 1970, com a propagação de cultos que aliciavam adolescentes, surgiram profissionais que se declaravam "desprogramadores", isto é, capazes de reverter a suposta "lavagem cerebral" a que os jovens teriam sido submetidos.) 

Mas alguns americanos também começaram a usar a linguagem aplicada a cultos, e a acompanhar especialistas nos estudos dessas manifestações, para tentar entender a onda de desinformação online e de pensamento conspiracionista que acompanhou a ascensão de Trump.

“Não é exagero rotular MAGA como um culto”, escreveu o ativista progressista Travis Akers em seu Twitter em janeiro, referindo-se ao slogan de Trump, "Make America Great Again", acrescentando que seguidores radicais do ex-presidente “estão doentes e precisam de ajuda”. A jornalista da TV Katie Couric perguntou: “Como vamos desprogramar essas pessoas que entraram para o culto de Trump?”. O deputado democrata Jamie Raskin, que coordenou os esforços para o segundo impeachment de Trump, comparou recentemente o Partido Republicano a uma seita. E num grupo do Reddit, em que parentes angustiados de seguidores de QAnon se reúnem para dar apoio uns aos outros e compartilhar estratégias anticulto, há várias referências ao trabalho de Hassan e outros especialistas.

“Sou inundado diariamente com famílias surtadas”, diz Pat Ryan, um especialista em mediação de culto da Filadélfia. Daniel Shaw, psicanalista de Nova York, que frequentemente trabalha com pessoas que saíram desse tipo de grupo, também registrou aumento de interesse no tema. “Tenho recebido muitas perguntas de famílias apavoradas com a perda de um parente que amam e está completamente perdido — mental e emocionalmente – na bizarrice das teorias conspiratórias”, disse Shaw.

Hassan, Ryan e Shaw são parte do pequeno campo de especialistas em cultos que focam, agora, nas experiências de pessoas que ingressam em movimentos intensamente ideológicos. Alguns são psicólogos e assistentes sociais; outros são acadêmicos independentes e profissionais sem credenciais. Muitos se identificam como ex-membros de cultos. Mas para famílias com esperança de “desprogramar” parentes queridos obcecados pelo QAnon, não se sabe ao certo que evidências existem por trás dessas práticas.

Há um largo consenso de que “alguns grupos prejudicam algumas pessoas às vezes”, diz Michael Langone, psicólogo e diretor da International Cultic Studies Association (ICSA). Mas pessoas que atuam na área às vezes entram em conflito com acadêmicos especialistas e mesmo entre si, especialmente no que se refere à noção de que pessoas saudáveis que aderem a sistemas de pensamento pouco ortodoxos são vítimas de um sequestro mental. Essa ideia encontra pouco respaldo científico, já que sociólogos, psicólogos e acadêmicos que estudam religiões começaram a deixar de lado a histeria anticulto décadas atrás, nos Estados Unidos. E embora hoje poucos especialistas digam fazer a desprogramação que ganhou popularidade nos anos 70, alguns praticantes de anticulto – e alguns psiquiatras – ainda endossam a crença de que lavagem cerebral e controle da mente são perigos reais, e que o mesmo se aplica a teorias conspiratórias online.

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Apesar disso, vários outros pesquisadores hoje afirmam que essas noções simplesmente não levam em conta a capacidade humana de fazer escolhas livres. Na maioria das vezes, dizem eles, as pessoas gravitam rumo a ideias e opiniões em que já tendem a acreditar, e os mais propensos a ser entusiásticos ou obsessivos serão exatamente assim, por vontade própria. Ainda assim, para famílias divididas por teorias conspiratórias políticas – e até mesmo sobre sistemas de crenças envolvendo as esquerdas, satanistas e círculos pedófilos –, muitos especialistas em cultos recomendam que o principal foco seja recuperar e cultivar relacionamentos.

“Em primeiro lugar, não confronte a pessoa porque não adianta nada”, diz Steve Eichel, psicólogo clínico de Delaware e especialista em recuperação de membros de cultos. “Em segundo lugar, mantenha sua relação com essa pessoa, custe o que custar”.

O movimento anticultos surgiu nos anos 1970, quando diversos grupos religiosos surgiram nos Estados Unidos, atraindo seguidores jovens. Elas incluíam os Rajneeshees, cujo crescimento no Oregon foi tema de um documentário da Netflix que viralizou em 2018; os Hare Krishnas e a Igreja da Unificação, do Reverendo Moon. Além disso, apareceram organizações políticas radicais, como o Exército Simbionês de Libertação, que ganhou fama quando sequestrou a herdeira e atriz Patricia Hearst, que acabou participando de um assalto a banco com o grupo.

Em alguns casos, essas pessoas fazem mudanças dramáticas em suas vidas, abraçando crenças que muitos de seus amigos e familiares consideram bizarras. Alguns grupos chegam a extremos, como foi o caso dos 900 seguidores do Templo dos Povos, grupo com sede em São Francisco, que morreram em 1978 em Jonestown, Guiana, depois de beber suco com cianeto.

Pais e comentaristas alarmados rotulam esses movimentos como cultos e descrevem o que ocorreu com seus filhos como lavagem cerebral e, até mesmo, como uma nova patologia. “O cultismo destrutivo é uma doença sociopática que está se espalhando rapidamente pelos EUA e pelo resto do mundo, como uma pandemia”, escreveu o médico Eli Shapiro no American Family Physician em 1977, depois que seu filho ingressou nos Hare Krishnas. Segundo Shapiro, os sintomas dessa patologia incluiriam “mudanças de comportamento, perda de identidade pessoal, cessação de atividades escolares, afastamento da família, desinteresse na sociedade e pronunciado controle mental e escravização por parte dos líderes dos cultos”.

Como resposta, as pessoas começaram a se organizar. A American Family Foundation, criada em 1979, oferecia recursos para famílias aflitas. Grupos mais radicais, como a Cult Awareness Network, ajudavam a agendar a desprogramação de membros de cultos, em alguns casos sequestrando essas pessoas, isolando-as por horas ou dias e recorrendo a vídeos e argumentos na tentativa de desfazer a lavagem cerebral.

O movimento anticulto logo passou a enfrentar a oposição de muitos sociólogos e historiadores das religiões, que argumentavam que anticultistas geralmente tinham como alvo movimentos religiosos que, apesar de exóticos para os americanos, não faziam nada de errado. Eles também questionavam a ideia de que lavagem cerebral e desprogramações fossem fenômenos reais. Em um estudo que virou referência, a socióloga Eileen Barker, da London School of Economics, passou quase sete anos avaliando membros da Igreja da Unificação. Barker acompanhou pessoas que entraram para a igreja após seminários de recrutamento e aplicou vários testes de personalidade para avaliar características como sugestionabilidade.

Barker argumentou que, em vez de ser submetidos a uma lavagem cerebral, a maioria das pessoas que participava dos seminários de recrutamento optava por não entrar na igreja. Os que entravam e permaneciam na igreja, conforme ela descobriu, pareciam ser mais obstinados e resistentes à sugestão do que os que não entravam. Baker disse à Undark que “pessoas ingressam nesses grupos porque encontram neles alguma coisa que, por algum motivo, combina com o que buscavam e não encontravam na sociedade normal”. Dito de outro modo, eles eram membros da igreja porque queriam ser membros da igreja.

Hoje, acadêmicos como Baker evitam o termo culto por causa de suas conotações pejorativas, preferindo a expressão “novos movimentos religiosos” (new religious movements, ou NRMs, na sigla em inglês). Em resposta, alguns especialistas em cultos acusam sociólogos e estudiosos das religiões de minimizar o comportamento abusivo de alguns grupos. Mas o modelo da lavagem cerebral também não teve o respaldo dos psicólogos. Em 1983, a American Psychological Association (APA) montou uma força-tarefa para investigar o tema. Os membros desse grupo – na maioria psicólogos clínicos e psiquiatras envolvidos no trabalho anticultos – concluiu que esses grupos realmente recorriam a "técnicas indiretas e enganosas de persuasão e controle” para atrair novos adeptos. Mas os especialistas que revisaram o trabalho continuaram céticos. Um desses revisores chegou a afirmar que trechos do relatório mais pareciam matérias do The National Enquirer [2] que um estudo acadêmico.

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“Em geral”, escreveram os membros do comitê de ética da APA na carta em que os achados da força-tarefa são rejeitados, “o relatório carece do rigor científico e de abordagem crítica imparcial necessários para a aprovação da APA. (Psiquiatras clínicos tendem a ser mais simpáticos à ideia de lavagem cerebral do que psicólogos pesquisadores; desde 1987, o Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders [DSM] alerta para “distúrbio de identidade devido a prolongada e intensa persuasão coercitiva”, que pode resultar de “lavagem cerebral, reforma de pensamento, doutrinação enquanto cativo” e outros traumas.)

Esses estudos evoluíram. A Cult Awareness Network de linha dura faliu por causa de processos judiciais, incluindo um por causa de um fiasco envolvendo a desprogramação de um fundamentalista cristão de 18 anos, que foi capturado, contido por algemas e fita adesiva e mantido numa casa de praia a pedido de sua mãe. Hoje, diz Eichel, a desprogramação não é praticada por pessoas que tenham um pingo de ética.

A American Family Foundation começou a fazer as pazes com os sociólogos e mudou seu nome para International Cultic Studies Association. E embora persistam diferenças entre pessoas que estudam cultos e NRMs, Langone, que dirige a organização desde 1981, diz que hoje é amigo de Barker e de outros acadêmicos que, no passado, combatiam a organização.

Michael Kropveld, que dirige o Center for Assistance and for the Study of Cultic Phenomena, ou Info-Cult, em Montreal, se iniciou nessa área em 1978, quando ajudou a organizar a desprogramação de um amigo que tinha entrado para a Igreja da Unificação. De lá para cá, sua abordagem amadureceu – a organização abandonou a desprogramação há tempos – e Kropveld diz que hoje acha o conceito de lavagem cerebral incompleto.

“O uso de termos como lavagem cerebral e controle da mente implica uma espécie de processo mágico que ocorre em pessoas que não percebem o que está acontecendo com elas”, diz. Kropveld acredita que técnicas de influência existem, mas as razões que levam pessoas a gravitar para esses grupos são mais complicadas e individualizadas. Ainda assim, ele reconhece que ideias como lavagem cerebral têm um certo apelo. “Mensagens simplistas com rótulos apelativos são as que chamam mais atenção”, resume.

Alguns especialistas em cultos continuam a ver utilidade no conceito de lavagem cerebral. Um dos mais destacados é Steven Hassan, ex-membro da Igreja da Unificação e autor de "Combating Mind Control". No passado, Hassan descreveu a internet como veículo para o controle da mente e “programação subliminar” e, mais recentemente, alegou que o “hypno porn” transgênero está sendo usado como “arma do controle da mente” para recrutar jovens para transição de gênero.

Ver Trump disputar a Presidência em 2016 levou Hassan a “um bizarro déjà vu”, como escreveu em seu livro mais recente, "The Cult of Trump". “Ocorreu-me que Trump exibia muitos dos comportamentos que eu tinha visto em Sun Myung Moon, que eu venerava como o messias em meados da década de 1970”.

Nos dias que se seguiram ao ataque ao Capitólio em 6 de janeiro, Hassan fez análises na CNN, The Boston Globe, Vanity Fair e outras mídias, respondeu perguntas em um popular grupo do Reddit que reúne pessoas cujos parentes aderiram ao QAnon. (Hassan não quis dar entrevista para a Undark, alegando que sua agenda estava lotada.)

Algumas pessoas fora do mundo dos estudos sobre cultos usam os mesmos argumentos, incluindo Bandy X. Lee, psiquiatra forense e consultora da Organização Mundial da Saúde (OMS), que até recentemente lecionava em Yale. Lee, que tem ajudado a promover o livro de Hassan, diz que parte dos seguidores de Trump parece membros de uma seita, e sugere que o ex-presidente cultivou uma espécie de psicose em massa.

Ela aplica essa análise a uma grande variedade de posições de direita. Quando questionada se pessoas que acham que mudanças climáticas são exageradas e que impostos progressivos são uma péssima ideia sofrem de uma patologia, ela responde que não. “Eu descrevo essas pessoas como vítimas de abuso. Especificamente, elas sofreram abuso de sistemas que a política e a indústria usam para manipular psicologicamente a população para que ela aceite políticas que comprometem sua saúde, bem-estar e até mesmo seus rendimentos e suas vidas”.

Nem todos os especialistas em seitas compram essa ideia. Langone, líder da ICSA, elogia as contribuições de Hassan para essa área de estudo, mas reconhece que não é possível descrever seguidores de Trump como membros de um culto. “Posso entender porque pessoas não gostam de Trump, mas daí a vê-lo como líder de um culto há uma enorme distância”, diz. Ele também teme que o lado de seita do QAnon seja ´”superestimado pelos meus colegas de estudos” e que a influência do QAnon pode ser exagerada pela cobertura da mídia.

As alegações de lavagem cerebral também não estão de acordo com pesquisas recentes da psicologia sobre informações falsas e teorias da conspiração. “Quanto dessas bizarrices se deve a alguma necessidade da pessoa, a alguma informação falsa, a esta ou aquela informação falsa, a esta ou aquela atividade ou comunidade, em vez do uso de certos métodos por algum líder?”, pergunta o psicólogo cognitivo Hugo Mercier, do Institut Jean Nicod de Paris e autor do livro "Not Born Yesterday: The Science of Who We Trust and What We Believe", de 2002.

Mercier acredita que o modelo da lavagem cerebral funciona ao contrário: em vez de enganar pessoas e levá-las a pensamentos perigosos, a propaganda e as informações falsas dão permissão para que expressem opiniões que já achavam atraentes antes.

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Gordon Pennycook, psicólogo social da University of Regina, no Canadá, afirma que embora possa parecer a familiares que uma pessoa mudou de repente, esses relatos geralmente trazem uma percepção errada da sequência de acontecimentos. “Não é que suas mentes foram dominadas ou controladas”, explica. “Suas mentes já eram suscetíveis. O que se dominou foram seus interesses, seu foco e assim por diante”. Pessoas que abraçam teorias conspiratórias têm traços de personalidade que tornam essas ideias atraentes. “Não são as teorias conspiratórias que as tornam mais agressivas e refratárias a outras formas de pensamento”, afirma Pennycook. "Na verdade, esses traços de personalidade é que as fazem acreditar tão firmemente nas conspirações”.

Muitos estudiosos dos novos movimentos religiosos também são céticos em relação à ideia de que informações falsas e teorias conspiratórias sejam capazes de sequestrar mentes. Megan Goodwin, que estuda minorias religiosas americanas na Northeastern University, conta que tem ouvido muita gente descrever o noticiário da Fox News como lavagem cerebral. “Os telespectadores da Fox News são adultos que optam por consumir essa mídia”, afirma Goodwin. Da mesma forma, compara a especialista, “aqueles que organizaram uma insurreição armada para ocupar o Capitólio são adultos que fizeram uma escolha”. Ideias como desprogramação legitimam esses atos, “porque, afinal de contas, essas pessoas não controlam mais suas mentes”. Essa narrativa pode até ser reconfortante, mas não existem evidências de que seja o caso. “Pessoas fazem escolhas absurdas, e mesmo as pessoas que você ama fazem escolhas absurdas”, diz.

Algumas famílias têm buscado ajuda de especialistas em cultos na esperança de resgatar um parente das comunidades online que se formam em torno de teorias conspiratórias – e há os que afirmam ter orientações eficazes, ainda que não consigam arrancar essas pessoas completamente das páginas. Um deles é Ryan, especialista em mediação de seitas da Filadélfia. Criado na Flórida, Ryan entrou para o movimento da Meditação Transcendental (MT) quando estava no final da adolescência e passou mais de 10 anos como ávido praticante do movimento global, criado na década de 1950. Com o tempo, ele passou a acreditar que fazia parte de um culto e abandonou a MT.

Seja para lidar com a preocupação com um parente conspiracionista, seja para mediar o conflito sobre ingresso em um movimento religioso, as famílias que recorrem a Ryan têm de responder a longos questionários e participar de sessões que envolvem Ryan, seu sócio e um psiquiatra. (Ryan, que tem diploma de filosofia oriental e negócios pela Maharishi International University de Iowa, não é profissional licenciado de saúde mental. Isso permite que ele faça intervenções “de uma maneira que para mim seria difícil fazer por causa da minha licença profissional”, diz Eichel, o psicólogo de Delaware, que às vezes encaminha famílias para Ryan.)

Ryan destaca que intervenções são raras e que geralmente o foco de seu trabalho é ajudar as famílias a manter o relacionamento com o parente conspiracionista, ou que ingressou numa seita. Quando Ryan e a família decidem fazer uma intervenção, a ação requer meses de preparação e, às vezes, o uso de truques para que a pessoa entre na sala e converse com Ryan e parentes.

É difícil dizer se esses métodos são realmente eficazes, e os próprios praticantes reconhecem que não há muitas pesquisas a respeito de resultados. “Você pode ser simplista, ter sorte e tirar a pessoa desses esquemas”, diz Langone, da ICSA, destacando que os motivos das pessoas para entrar ou sair desses grupos são altamente individualizados. “Não há boas estatísticas sobre a eficácia desses aconselhamentos”, afirma Langone.

Durante uma conversa no final de janeiro, Ryan disse ter trabalhado no ano passado com cerca de 20 famílias lidando com parentes que tinham mergulhado fundo no QAnon ou comunidades parecidas, e não recomendou intervenção em nenhum dos casos. “A base do trabalho é se manter conectado com essa pessoa e como fazer isso, porque você precisa um relacionamento com a pessoa para poder influenciá-la”, explica.

Por enquanto, o filho do conspiracionista do Colorado tem meios de escapar de conversas desconfortáveis e evitar confrontos. Qualquer outra coisa provavelmente não vai funcionar, diz. “Eu acho que com o tempo isso vai passar”, afirmou no início do mês. Mas agora sua confiança diminuiu. Desde a posse de Biden, seu pai passou a disseminar teorias antivacinas entre a família e ele se pergunta o que acontecerá no futuro. “Eu não sei se e onde isso vai parar, porque tem muita loucura rolando nos Estados Unidos”.

 

Michael Schulson é editor-colaborator de Undark. Seus trabalhos também já foram publicados por Aeon, NPR, Pacific Standard, Scientific American, Slate e Wired, entre outras publicações. Artigo publicado originalmente em Undark.

 

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NOTAS

[1] A Lei da Insurreição (Insurrection Act) dá ao presidente o poder de mobilizar as Forças Armadas em território americano e situações especiais para por fim a agitações civis, insurreições e rebeliões.

[2] Jornal sensacionalista dos Estados Unidos

 

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