Sociedade paulista é beneficiária das universidades e da Fapesp

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24 ago 2020
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Permito-me repetições, pois, com minhas oitenta e uma primaveras, tenho direito de ser recorrente. Trato, de novo, com a solidão que acadêmicos sentem quando, como hoje, se atacam, mais uma vez e com cinismo, as universidades públicas paulistas e a Fapesp, e são novamente os acadêmicos quase os únicos que as defendem. Defesas da academia e da pesquisa por acadêmicos e pesquisadores, apesar de todos os argumentos que as sustentam, podem parecer corporativistas. Assim são considerados, legitimamente ou não, por parte dos contribuintes paulistas.

Os beneficiários da USP, Unicamp, Unesp e Fapesp novamente se calam.

Os conglomerados do Agro, desde o açúcar, a laranja, passando pelo eucalipto e o etanol, continuam calados. “O Agro”, como bem diz a propaganda, “é tudo”, por causa da ciência produzida no estado, financiada pela Fapesp, e dos profissionais formados pela USP, Unicamp e Unesp. E é por isso que o silêncio do Agro me enfurece.

Os conglomerados bancários brasileiros, com sistemas de relação com clientes baseados na mais alta tecnologia de informação, conseguiram lucros significativos nas últimas décadas. Muita tecnologia bancária hoje é importada, mas gerenciada por brasileiros formados pelas universidades públicas paulistas. O desenvolvimento de novos pacotes e a criativa relação com o mercado não é realizado por pessoal desqualificado, nem poderia ser diferente. São, de novo, os formandos pela USP, Unicamp e Unesp. O silencio da Febraban é intolerável.

O combalido setor industrial sabe, ou, mas bem deveria saber, que sair da crise sem inovação pode manter o setor na penumbra por mais uma década (sendo otimista). Inovação requer pessoal qualificado, e pesquisa na empresa. Nada disso será possível se o projeto que intervém na autonomia “administrativa e de gestão financeira e patrimonial” (Constituição Federal, Artigo 207) das universidades, e recolhe aos cofres do estado reservas da Fapesp, for aprovado na forma apresentada. A Fiesp continua muda.

A saúde financeira dos pequenos empreendedores, desde cabeleireiros até açougues, dos mercadinhos aos postos de gasolina das cidades do interior do estado, depende dos estudantes e pesquisadores dos muitos campi da USP, Unicamp e Unesp. Será que eles podem ser mobilizados? Pois uma contração das universidades e uma diminuição da pesquisa poderia levá-los a falência. Também não foram ouvidos.

Os deputados da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo, que arcam com a responsabilidade de analisar e votar Projeto de Lei Estadual 529, que busca reequilibrar as contas do estado por meio de, entre outras medidas, apropriar-se dos recursos das reservas da Fapesp e das universidades, seriam muito mais sensíveis a sugestões vindas desses setores da sociedade do que aos apelos exclusivos dos acadêmicos. 

 

Hernan Chaimovich é professor emérito do Instituto de Química da USP

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